Entendendo o TDAH
TDAH não é moda.
Não é frescura.
Não é desculpa pra não fazer.
É um modo de funcionamento neurológico que te joga contra você mesmo.
Mas não te impede de lutar.
Você sabe o que tem que fazer.
Mas não faz.
Ou começa e para.
Ou começa tudo ao mesmo tempo e termina nada.
Você tenta focar — e a mente escapa como sabão molhado.
Você promete pra si mesmo que vai mudar… e no dia seguinte repete tudo igual.
A RAIVA DE SI MESMO VIROU ROTINA
Você se sabota.
Você procrastina.
Você esquece o que prometeu.
Você atrasa, mente, inventa desculpa.
E depois sente culpa, vergonha, frustração, nojo de si.
O TDAH é isso:
Uma mente que quer produzir, mas funciona como um rádio com sinal fraco e sem botão de volume.
E no meio desse caos… você vai se esfarelando.
MAS ISSO NÃO É MOTIVO PRA SE ENTREGAR
O diagnóstico pode explicar.
Mas não pode justificar tudo.
Você não é obrigado a render igual a todo mundo.
Mas é obrigado a ser honesto consigo mesmo.
Você pode ter um cérebro que falha na regulação.
Mas você ainda tem escolha.
Você ainda tem vontade.
Você ainda tem responsabilidade.
NÃO É SÓ DEFICIT DE ATENÇÃO. É UM CONFLITO DE IDENTIDADE.
Porque o TDAH é cruel:
• Te dá ideias brilhantes, mas te impede de realizá-las.
• Te dá energia, mas sem direção.
• Te dá visão ampla, mas sem continuidade.
• Te deixa hipersensível, mas sem ferramentas pra lidar com isso.
Resultado?
Você vive se sentindo aquém.
Como se sempre estivesse devendo alguma coisa.
Como se fosse inteligente demais pra estar onde está — mas desorganizado demais pra subir de nível.
TDAH É UMA ESTRADA COM BURACOS — MAS A DIREÇÃO É SUA
Sim, o cérebro é diferente.
Tem déficit de dopamina, alterações no córtex pré-frontal, disfunção executiva.
Mas isso não é sentença de morte.
O TDAH só te vence se você escolher fingir que não tem responsabilidade nenhuma nisso.
A diferença entre o adulto que afunda e o que se levanta…
…é que o segundo decidiu não usar o diagnóstico como identidade.
O MITO DE HÉRCULES NO LABIRINTO
O TDAH é como um labirinto interno.
Você se perde nas ideias. Nos impulsos. Nos estímulos.
Mas ainda assim, você pode amarrar o fio da disciplina e sair de lá.
Não vai ser fácil.
Não vai ser rápido.
Mas vai ser possível.
Se você parar de fugir da verdade.
Avaliação do Tdah
TDAH não é desculpa pra uma vida sem rumo.
Também não é sentença de fracasso.
É um estilo de funcionamento cerebral que bagunça sua atenção, sua memória, seu foco e sua capacidade de manter a própria palavra.
Mas eu preciso que você entenda:
Diagnóstico sério não se faz no chute.
Nem no vídeo do Instagram, nem em teste de revista, nem porque “fulano se identificou”.
Se você quer saber se tem TDAH de verdade, nós vamos fazer isso como adultos.
ETAPA 1 — SUA HISTÓRIA DE VIDA É O NOSSO MAPA
A primeira coisa que eu vou fazer não é te julgar, é te ouvir.
Vamos investigar:
• Como você era na escola? Esquecia materiais? Dificuldade de prestar atenção?
• Tinha energia demais ou parecia no “mundo da lua”?
• Você já foi chamado de preguiçoso, desligado, estabanado, impulsivo, “difícil”?
• Você conseguiu se organizar sozinho ou alguém sempre teve que te “empurrar”?
Por quê? Porque TDAH começa na infância.
Se esses sintomas só apareceram agora, depois de uma crise, um trauma, uma separação, uma sobrecarga — então a raiz pode estar em outra coisa: transtorno de ansiedade, depressão, burnout, trauma não processado.
ETAPA 2 — AVALIAÇÃO POR ESCALAS CLÍNICAS (PADRONIZADAS)
Agora eu aplico instrumentos científicos. Os mais usados são:
• SNAP-IV (para crianças e adolescentes): avalia sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
• ASRS (Adult Self-Report Scale): autoavaliação focada em sintomas em adultos.
• Barkley’s Executive Function Scale: focado em funcionamento executivo (planejamento, persistência, gestão de tempo, regulação emocional).
Esses testes ajudam a quantificar o que você sente.
Se você se identificou em 1 ou 2 sintomas, ok.
Mas se está acima da média clinicamente significativa, aí ligamos o alerta.
ETAPA 3 — ENTREVISTA CLÍNICA ESTRUTURADA (DIVA-5)
Aqui a gente senta com régua na mão.
A entrevista DIVA-5 (Diagnóstico de TDAH em Adultos, segundo o DSM-5) organiza os sintomas por:
• Desatenção
• Hiperatividade/Impulsividade
• Prejuízo funcional
A gente vai olhar se os sintomas aparecem há mais de 6 meses, em pelo menos dois contextos da sua vida (ex: casa e trabalho), e se eles causam prejuízo real (demissões, conflitos, falhas, frustração crônica).
Exemplo real:
“Fulano” achava que tinha TDAH.
Mas os sintomas só apareciam no trabalho novo, depois de um burnout.
Ansiedade extrema com medo de errar.
Sem histórico escolar consistente.
O problema não era TDAH. Era esgotamento + ambiente tóxico.
ETAPA 4 — AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA (SE NECESSÁRIO)
Se o caso for mais complexo, podemos aplicar testes objetivos como:
• TAVIS-4 (Teste de Atenção Visual e Auditiva Sustentada)
• Stroop Test (controle inibitório)
• Go/No-Go (impulsividade)
• Trail Making Test (atenção alternada e flexibilidade cognitiva)
• WCST (Wisconsin Card Sorting Test) (planejamento e flexibilidade)
Esses testes avaliam funções executivas — ou seja, o que você faz com o seu cérebro no mundo real: planejar, manter foco, adiar gratificação, terminar o que começa.
ETAPA 5 — ANÁLISE FUNCIONAL DO DIA A DIA
Aqui, você me mostra onde a sua vida tá travando.
A gente olha:
• Sua rotina: você consegue organizar seu dia ou vive apagando incêndio?
• Seu trabalho: você começa bem, mas logo abandona projetos?
• Sua casa: sua mente é como seu quarto — bagunçada, impulsiva, esquecida?
E principalmente: você sofre com isso?
Porque se tem sintomas mas você se adapta, vive bem, rende… então talvez nem precise de rótulo.
Exemplo de plano de tratamento pós diagnóstico
Objetivo: Reduzir o impacto funcional dos sintomas e aumentar a autonomia com autorresponsabilidade.
🔸 1. Psicoeducação (semanas 1 a 2)
Você precisa entender seu próprio funcionamento.
Explico a base neurológica, os mecanismos de falha atencional e impulsiva, e desconstruo a culpa — sem tirar a responsabilidade.
🔸 2. Mapeamento de rotinas e gatilhos (semanas 3 a 4)
Você vai anotar sua rotina, identificar buracos de atenção, impulsos destrutivos, e momentos de “fuga”.
🔸 3. Estratégias práticas (semanas 5 a 8)
• Técnicas de organização externa (planner, app, rotina visível)
• Estratégias de recompensa e reforço de tarefa
• Técnicas de início de tarefa (“só começa por 5 minutos”)
• Técnicas de interrupção de impulsividade
🔸 4. Reestruturação cognitiva (a partir da semana 6)
A gente vai encarar as crenças sabotadoras:
“Nunca termino nada”, “Não sou confiável”, “Sou um fracasso”.
E substituí-las por pensamentos mais funcionais:
“Talvez meu jeito de funcionar seja diferente, mas posso ser eficaz com estrutura.”
🔸 5. Acompanhamento contínuo + possíveis encaminhamentos
• Psiquiatra (para avaliação farmacológica)
• Psicopedagogo (caso escolar)
• Treinamento de rotina (caso adulto profissional)